AMAZONENSE PAULO ONÇA EMPLACA SAMBA-ENREDO NA GRANDE RIO

Em 2017, o talento dos sambistas amazonenses Paulo Onça e Alan Vasconcelos promete incendiar a Marquês de Sapucaí. Isso porque o samba-enredo “Ivete do rio ao Rio” composto por Paulo e Alan, que são tio e sobrinho, - em parceria com mais quatro artistas - foi escolhido para representar a escola Grande Rio na próxima edição do carnaval carioca.

O anúncio foi feito por volta das 6h30 deste domingo (4), após a chegada da musa baiana, Ivete Sangalo, na quadra da baixada Fluminense. A dupla desbancou 26 composições de gigantes do samba e escreveu, enfim, o nome na história do carnaval do Rio.

"Todos os concorrentes já haviam vencido este mesmo concurso em anos anteriores. Só faltava a nossa vez e, graças a Deus, papai do céu abençoou e quis Ele que nesse ano, o samba da Grande Rio tivesse esse toque amazonense", disse o sambista Alan Vasconcelos.

Cantora será tema de enredo da Grande Rio
(Foto: Ive Rylo / G1 AM)

Este foi o terceiro ano consecutivo que Alan concorreu pela Grande Rio. Já o tio dele, Paulo Onça, disputa há 11 anos e foi finalistas seis anos seguidos.

A insistência foi recompensada e aquela pitada do "toque amazonense" pode ser conferido principalmente nos dois refrões no enredo de Duque de Caxias. “Os dois refrões têm o momento forte do samba, que você toca o coração da comunidade e da homenageada. Lá colocamos o nosso tempero”, adiantou.

Na corrida final, quatro composições brigavam pelo título, que foi finalmente abocanhado pelos artistas amazonenses, em parceria com Rubens Gordinho de Santos, Dinho Artigliri, Kaka e Marcos Moreno.

"Fizemos essa conexão do Amazonas, São Paulo e Rio de Janeiro, uma mistura de culturas, com a particularidade do samba de cada estado. Aproveitamos um pouquinho de cada um e graças a Deus, a receita deu certo", afirmou.

SEGREDO DO ENREDO CAMPEÃO

Foram quase sete meses de trabalho, divididos entre estudar a vida de Ivete, parcerias com outros artistas, compor e gravar a canção.

Além da experiência de uma vida dedicada ao samba, Alan atribui a vitória à meticulosa pesquisa sobre a vida da musa baiana. Os compositores passearam pela infância da Ivete de Juazeiro, longe de todo o glamour dos trios elétricos. A caminhada de fé às margens do rio São Francisco e o jeitinho da “mainha invocada” que arrasta multidões Brasil a fora.

“Acho que esse foi um detalhe crucial, quando você vai falar de uma pessoa, tem que focar primeiro lugar de onde veio o homenageado. Então a gente foi feliz nisso. Muitos sambas foram na linha de falar dos sucessos consagrados na voz dela. A gente falou da infância, acredito que resumimos bem e captamos a mensagem do carnavalesco. Acredito que o quebra-cabeça foi bem montado e que foi crucial para tocar o coração da Ivete e da comunidade”, comemorou.

A letra também fala das lendas e mistérios do "Velho Chico" que banham a história do povo nordestino. “O samba faz uma mística com relação à lenda da serpente encantada do Velho Chico”, disse.

Na hora do anúncio do enredo vencedor, o grito - de anos de dedicação - preso na garganta de tio e sobrinho ecoou na quadra da Grande Rio.

"Foi um misto de alegria e passa um filme na cabeça porque é um sacrifício para nós do Norte, de sair do nosso estado, enfrentar todas a dificuldades que possa imaginar, dificuldade financeira, deixar família, correr atrás de patrocínio. Então, é uma luta bem mais árdua. Tem um significado maior", disse.

O Carnaval 2017 vai marcar o retorno do tio de Alan à festa no Rio de Janeiro. Em 1998, Paulo Onça ajudou a levar à Sapucaí o samba "Parintins para o mundo ver", do Salgueiro.

“É uma conquista do samba amazonense. Tive muita ajuda de amigos de Manaus, em todos os sentidos, desde o simples boa sorte até ajuda financeira, porque os custos para disputar um samba em uma escola como a Grande Rio é bem alto. Nada disso teria conseguido sem apoio do Norte, dos amigos e da família”, agradeceu Alan.

CARREIRA

Onça começou a sua carreira com 20 anos cantando nos bares de Manaus. Vinícius de Morais e Bossa Nova foram as primeiras inspirações do cantor e sambista amazonense.  Composições que ganharam sucesso nas vozes de grandes nomes do cenário do samba renderam a ele conhecimento nacional. Jorge Aragão é um deles. O artista carioca fez sucesso em 1999 com a música "Feitio Paixão". O primeiro "boom", no entanto, veio com "Coração feito menino", na voz de Royce do Cavaco.

CONFIRA O SAMBA-ENREDO CAMPEÃO:

A GRANDE RIO VEM DAR UM BANHO DE AXÉ

SALVE! TODA ESSA GENTE DE FÉ

O TAMBOR DA INVOCADA PROMETE

LEVANTA A POEIRA IVETE

BRILHA MINHA ESTRELA

ALUMIA O MEU CAMINHAR

MENINA BAIANA DO JUAZEIRO

SAUDADE MANDOU UM CHEIRO

VELHO CHICO... HISTÓRIAS FEZ LEMBRAR

NOSSA SENHORA SEMPRE A ME GUIAR

SOL INCLEMENTE

TERRA SECA ERA O SERTÃO

ADOLESCENTE, ABRAÇO O VIOLÃO

FORROZIEI, PULEI FOGUEIRA, VIVA SÃO JOÃO

MINHA FAMÍLIA, DOCE INSPIRAÇÃO

E LÁ VOU EU, PÉ NA ESTRADA

E LÁ VOU EU, MEU AMOR

OLHOS DE FOGO DA SERPENTE ENCANTADA

ILUMINAVAM MEU DESTINO A SALVADOR

CANTEI A NOITE BUSCANDO O QUE EU QUERIA

ALEGRIA! ALEGRIA!

GUITARRA, FREVO, TAMBORES QUE TÊM MAGIA

Ê BAHIA! Ê BAHIA!

COM A EVA ENCANTEI TODA CIDADE

NO TRIO ARRASTEI AS MULTIDÕES

CANTO A MINHA VERDADE, AFRICANIDADE

MISTURA DE EMOÇÕES

MEU TIMBAU... VIROU SUCESSO INTERNACIONAL

NOS PALCOS DO MUNDO O ESTRELATO, A CONSAGRAÇÃO

MÃE PRETA NO SEU ACALANTO

ME FEZ MAINHA, EMBALEI TODA NAÇÃO

COMUNIDADE, POVO DO GUETO, EU SOU

CAXIAS ME ABRAÇOU

Fonte: g1.globo.com